Já se imaginou ficar sem energia elétrica? Impossível, diria. Sim, também não sobrevivo mais sem computador, internet, ar condicionado (ou mesmo o velho ventilador), micro-ondas e por ai vai...
Mas que saudade dos apagões cotidianos. Para os mais jovens é bom explicar que muitas vezes a energia elétrica nos pregava uma peça. Pobre das mães, bem na hora da novela, o único programa que assistiam e que as fazia ficar sentadinhas em frente à televisão caixote. Pois bem, apesar dos reclames, confesso que eu adorava esses momentos de apagão. Era a hora da família toda se reunir. Na cozinha ou mesmo lá fora, quando era muito quente. E era aquela confusão para achar as velas pela metade. Quem foi que as guardou da última vez? Depois disso aquela distribuição de velas pela mesa da cozinha. Cuidado para não se queimar. Uma ficava de reserva. Era para quem precisava ir ao banheiro. E o medo de ir sozinha? Ah, a irmã mais velha ia junto, mas sempre para assustar, colocando a vela embaixo do rosto para dar aquela impressão horrenda de “Os outros” ou algo assustador semelhante assim. Na cozinha as mais variadas conversas. Resgate histórico dos momentos secretos de nossos pais na infância e adolescência. Ficávamos sabendo de histórias que só eram mencionadas ali. Pareciam até pertencer há um momento assim. Que ficava nas entrelinhas e que agora aparecia com aquele ar nostálgico e sombrio (mas tudo isso no seu aspecto positivo). Esta forte ligação deve ser porque trazia sensações diferentes. E se fossemos lá para fora, as histórias eram interrompidas pelas indagações acerca das estrelas e do universo. Era impossível não fazê-las. Hora de deixar os olhos bem abertos para captar cada sinal brilhante daquele céu estrelado. Ver estrela cadente era raro, mas quem visse ganhava, literalmente, as estrelas! Sensação alguma substitui isto. Mas como meu pai estava contando.... ops a luz voltou. Minha mãe vai correndo ligar a TV, meu pai o rádio e eu ficava ali, esperando por um novo apagão. Cadê?